Tenho que ir para casa. Desculpa... tenho que ir.
Tenho em mim o sufoco do mofo e da peste
puro ácido que corrompe-me a pele e que
como garras
susteem-me nesta cerca a que chamamos lar.
Não
és tu nem sou eu; somos nós
que tornamos fétido o respirar
e que à custa de tanto nos amarmos e odiarmos
acabamos por destruir a única promessa sincera
que juramos neste tecto.
Vinte anos trancado na minha própria paranóia,
uma televisão e as molas soltas do gasto sofá
a viver somente da vida dos outros
vegetativos.
Desculpa.
Sei que mais tarde reconhecerei que
fiz também a cama onde me deitei,
mas hoje,
somos somente palavras gastas
num tempo morto.